segunda-feira, 1 de março de 2010

um estilo: andar fascinado/obcecado por imagens de fim. claro que o estilo útil deve ser uma anulação da sua própria forma. como se a cabeça se manifestasse com uma fome descontrolada de imagens. de repente vale tudo. tudo o que se transforme em voz. porque o estilo é uma voz. uma voz que fala lá do fundo da memória e se projecta no futuro. digerindo a vida. digerindo tudo. a verdade e a mentira. a respiração e a morte. um estilo: nada de sonhos. nada de imagens inconscientes. cada vez mais uma transformação de paisagens surdas em mecanismos linguísticos. um estilo que é directamente roubado da digestão do caos. não do caos. o estilo diz: medo. e o enigma cria o medo. e o que se busca não é o medo mas a resolução concreta do enigma. e o estilo é um enigma. e o enigma é a voz. talvez seja por isso que todas as pessoas se centram numa forma específica de ritmo. ritmo cardíaco e ritmo de pensamento. porque a voz ocupa um lugar marcante na vida. depois de resolvida a questão da voz e do ritmo pode acabar-se com o caos. o fim do caos é o domínio absoluto da língua. é a língua em estado puro. é um combate mortal de palavras, com novos significados sintáticos e meta-gramaticais. numa convulsão absoluta a língua deve assumir o seu estado puro de desenvolvimento. muitas vezes o desenvolvimento confunde-se com a origem. isto não é um sonho de regresso. o regresso é impossível. um estilo deve ser uma porta que depois de aberta não permite olhar para o passado. a voz da língua não aceita a dúvida. ela reinventa-a. a gramática interna é superior a todas as escritas. não há lugar para linhas. os textos são disparados para todas as direcções.

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