sábado, 13 de março de 2010



tudo no teatro significa. entra-se numa sala e leva-se com um podemos começar? que uma actriz nos atira às ventas como se o público fosse lixo. começa-se logo à defesa. há logo ali um momento tenso que não se justifica neste tipo de situações. enfim... está-se no Teatro Taborda e dá para olhar um bocado para as paredes para esquecer o acontecimento inicial. o espectáculo lá começa. duas actrizes estão em palco desde a nossa entrada. vestem uma roupa interior ao estilo antigo. com uns candeeiros espalhados pelo palco. mais uma poltrona meticulosamente colocada no meio de um rectângulo desenhado a fita adesiva. os dados estão lançados. o público lá se senta. espera-se que termine a música. leva-se com aquela pergunta retórica feita num tom desagradável. eu sei lá se podem começar!!! não sou eu que decido essas coisas. de repente uma das actrizes encosta-se à boca de cena e começa a atirar com um texto ao estilo moderno com palavrões e tudo, na minha cabeça começo a descolar-lhe o figurino do discurso, mais a cena desagradável da entrada e já estão a perder por dois pontos. enfim... sigo a viagem que me dão a comer com toda a tranquilidade. até gosto de ir ao teatro e estou numa fase zen. repito isso na minha cabeça e dou mais umas espreitadelas para as belíssimas paredes do Taborda. volto a fixar os olhos no palco. aquilo que é proposto é um monólogo tripartido. uma mulher. chama-se Lídia. a actriz da boca de cena que disse uns palavrões e tudo tem ali uns devaneios sobre a compra de um tal casaco e sobre uma anã. sai da boca de cena. faz um percusro pelo palco. fala de costas para o público e o texto perde-se. dirige-se para um candeeiro. fica quieta aí. começa então a outra actriz. agarra num spray que está perto da poltrona. dá uns borrifos fracos na poltrona e desata a limpar a poltrona. diz umas coisas. sobre os homens talvez. a outra actriz está ainda ao pé do candeeiro a relacionar-se com o objecto. a relacionar-se com o objecto mas em pequeno. umas coisas sem leitura nenhuma com um som de batida cardíaca por trás. camaradas, na verdade eu pergunto-me... aliás, eu nem sei se me pergunte o que quer que seja. o espectáculo lá insiste no seu percurso sinuoso. cada vez percebo menos disto. de repente começo a pensar nas coisas que poderia estar a fazer se ali não estivesse. na televisão dava o Walk The Line. mas enfim... as actrizes vão variando nos seus pequenos monólogos insipientes sobre a condição feminina. aqui tenho de dizer: foda-se!!! que condição feminina??? como se a condição feminina destes dias fosse uma necessidade carreirista de comprar um casaco e comer só arroz para o poder usar... o texto do espectáculo é, na minha opinião, francamente fraco, ou seja, é um texto lugar-comum. mas o problema de um espectáculo de teatro não é o texto. o grande problema de um espectáculo de teatro é a opção dele mesmo. é aquilo que pretende escrever. um espectáculo de teatro pretende sempre escrever-se a si mesmo no imaginário do público, pretende ficar como uma marca. pode ser uma marca mais ou menos artística, mais ou menos de puro divertimento, mais ou menos conceptual, não interessa. um espectáculo que se faz é uma proposta que se apresenta. é incrível como num espectáculo de pouco mais de uma hora se conseguem banalizar os silêncios ao ponto de se tornarem de um aborrecimento atroz!!! aliás, ao ponto de eu me perguntar se alguma das actrizes se tinha esquecido do texto!!! mas ainda não é tudo!!! eis que no meio do deserto surge a personagem zero!!! as duas actrizes viram-se de costas para o público e surge uma performer (assim lhe chamava o programa). e eis que ela entra e eis que ela se relaciona com o objecto poltrona e eis que ela se relaciona com o objecto poltrona e eis que ela se relaciona uma vez mais e mais e mais e mais e mais e mais com o objecto poltrona e eis que ela sai. e assim passou por ali uma imagem das que possibilitam leituras para o público. claro que nesta fase já estava eu a fazer contas de cabeça para conseguir perceber que tempo tinha passado e quanto tempo faltaria para terminar o vazio. porque não há nada que me custe mais do que o vazio. não dá para perder tempo com o vazio no teatro. na vida arranja-se um bocado de paciência. no teatro não dá. não há nada mais aborrecido do que o nada em si. e pronto, lá se seguiu o espectáculo. enfiado em si mesmo. um daqueles espectáculos que não pretendem sair do palco. que se assumem como experimentais mas que na verdade têm é muito pouco para dizer. e custa-me que a nova geração dê estas cartas de bandeja. custa-me que o nada se imponha nos palcos. custa-me que o futuro seja este. pior, custa-me que o presente já seja este. e depois penso: não há nada como ir a um bom concerto ou ao cinema!!! porque eu não me admiro que o público goste deste espectáculo, eu não me admiro que quem o fez acredite nele, para mim é que é apenas um pedaço de carne mal digerida. um espectáculo possível, uma primeira encenação desculpável... claro... mas com tão poucas cartas para dar a um público sedento, com uma perspectiva tão fraca em relação ao acto teatro que saí do Taborda triste... e enfiei dois cigarros seguidos para não me enervar, porque, afinal de contas, estou numa fase zen.

7 comentários:

  1. Arriscaste e perdeste, Pedro.
    Uma primeira peça e encenação da autora Cláudia Lucas Chéu (entre outros, actriz em O Último Beijo, Amanhecer, Anjo Selvagem e, cereja no bolo, Morangos com Açúcar, segundo o perfil no blogue dela).
    O que vejo neste vídeo levava ao desespero as feministas dos anos '70.
    Assistente de encenação Albano Jerónimo, sim senhor, outra estrela das novelas, por acaso namorado da encenadora (houve um artigo na revista Caras sobre o amor feliz do casalinho).
    César Monteiro gritava logo no início do espectáculo: "Despe, despe!" e com razão. Não há pachorra, pá!

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  2. em compensação hoje, domingo, fui ao santiago alquimista ver o senhor brendan perry, dos já antigos dead can dance!!! salvou o fim de semana cultural, ontem ainda queria ir ver o édipo mas pelos vistos já não havia bilhetes!!! enfim... a minha questão é que neste momento o público papa qualquer coisa e o que é pior nesse facto é que os criadores sabem. mas enfim... já dizia o outro há espaço para tudo neste mundo! ao que eu digo infelizmente, infelizmente.

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  3. Sempre fui fã dos "Dead can dance", perdi o rasto deles. Até levei (sem pedir) uma vez emprestado o tema instrumental "Saltarello" (do álbum Aion) num concerto dos Lucretia Divina! Mais uma ideia para um post.
    Não sabia do concerto de Brendan Perry, mas também não podia ir, ontem estive o dia inteiro em filmagens para um filmezinho dinamarquês.

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  4. caro rini, o carretas manda abraços!!!

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  5. Dá-lhe um abraço de volta, Pedro!
    Vi que a vossa estreia "Pedro e Inês" está planeada no dia 22 de Abril, nesses dias (21 e 22) espero estar outra vez no Porto para a Fundação do Gil, mas tenho aqueles horários cedinho de manhã. Não haverá um ensaio geral que posso ver? Rua do Freixo mil e tal? Não faço ideia onde fica, mas logo se vê.
    Abraço também e parabéns atrasados à Ana Margarida, o agradecimento dela nos prémios SPA ficava bem nos Óscares: "Oh my God, oh my God! :)

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  6. nem que um gajo faça um ensaio só para ti!!! já mandei os parabéns à margarida. agora é a nossa actriz premiada. hehehe

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  7. Fico comovido...
    E este, hein: hoje Mónica Calle pediu-me para entrar como acordeonista numa nova versão do "Ginjal ou o sonho das cerejas"" ("O jardim das cerejeiras") de Anton Tchékov... estreia dia 3 de Junho em Guimarães, digressão e carreira no Teatro Maria Matos de 1 a 11 de Julho.
    Ver se consigo conciliar isso, também tenho de arranjar mais um ou dois músico(s)....

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