segunda-feira, 29 de março de 2010

e lá se passou mais um dia mundial do teatro a trabalhar... o otelo no teatro municipal de vila real. soube lá que o circolando tem uma co-produção com a câmara municipal do fundão... está muito bem... a linha é óbvia...

quinta-feira, 25 de março de 2010

encontravam-se em volta de assuntos que pertenciam à obscuridade.
porque eram homens-mulheres algo havia que navegava na sua cabeça que precisava da liberdade. pediam água. trazia-se. pediam para provar o sabor amargo da vida. também se arranjava. era um desfilar constante de repastos internos que lutavam contra o mundo. uma viagem constante no estômago.
dizia-se que dominavam a violência chamando-a em rituais físicos. dançavam muito sobre a beira do abismo. não sabiam o que era o medo. às vezes ele vinha. inconsciente na visita. acabava sempre por fugir. aos gritos. através de caminhos sinuosos de fúrias perversas. em cavernas de vazio. cheias de solidão. mundos imaginários.
reis da ausência. negros. com a pele rasgada pelos sulcos pesados da escolha. porque escolhiam. a condição dolorosa. o seu grande carrasco. o que pesava sobre os seus ombros. a sombra gigante que lhes arrefecia a cabeça. a escolha. os caminhos adversos. o ar respirado sofregamente no alto dos montes em que nenhum outro tinha estado.
os poetas do nada eram brilhantes. apresentavam-se mascarados de olhares. os relógios seguiam o seu curso. mas só alguns estavam certos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

eh pá, imaginem lá que a 27 é o dia mundial do teatro!!! e quem é que vai fazer teatro MAIS UMA VEZ no fundão??? os nossos grandes compadres da estação!!! lá estará o teleguine e os seus pares para mais uma apresentação da ainda nunca vista tomada do carvalhal!!! é isso mesmo, aquele espectáculo que tinha aquele poema japonês marcante na publicidade... eh pá, isto já foi há uns anos... mas pronto, o que importa é que exista diversidade... cala-te boca... e numa cidade em que o único teatro que há são as produções da estação... não sei porque é que neste dia mundial da falcatrua se haveria de mudar a estética local. mais uma vez aqui fica o enorme cumprimento ao enorme programador cultural que o fundão alimenta. durante mais quanto tempo se manterá o silêncio em relação a tamanha fraude??? só ele sabe... só por vergonha é que ainda lá está... ó programador, apresenta a demissão!!! já não há paciência para tamanha aldrabada, fónix. é mais quatro anos disto??? por favor... já vi mais vida num caixão aberto!!!
vou-te matar porque és transparente.
vou-te matar porque quero fazer história.
vou-te matar porque és melhor do que eu.

terça-feira, 23 de março de 2010

voltei a agarrar-me ao futuro texto. céu de cinza. uma família em ruptura na província. cinco personagens. mãe pai filho filha e um estranho que parece ter algo demasiado seu no interior da família. a mãe teve uma relação com esse estranho e ele é o pai do seu filho mais velho. há uma disputa de terras entre o marido e esse homem. o seu marido não sabe da história mas vai acabar por saber. acaba por enforcar-se na figueira velha que existe junto ao poço. a mãe fica louca num estilo autista. o filho assume o poder da quinta e nunca chega a falar com o seu verdadeiro pai. a filha vai para a cidade. quero chegar à violência bárbara das aldeias. ainda não sei se vai ter a forma de peça de teatro ou a de pseudo-romance. escrever teatro é difícil. tenho de conseguir ter as cenas muito bem definidas para poder escrever uma versão cénica. talvez faça as duas. amanhã começam os ensaios a sério da nova peça. a semana anterior foi das mais cansativas que tive até hoje. piloto automático. detesto sentir-me preso pelo espaço. mas enfim... lá se acabou a semana e lá se recuperou o sentido, embora as costas... as costas ainda se queixem um bocado. pronto, mas agora importante é fazer um bom espectáculo e começar a escrever isto.

segunda-feira, 22 de março de 2010

publicidade e o caneco

este aqui é o link para o myspace dos meus novos compadres les saint armand, é ir e ouvir. aqui: aqui!!!
e depois chega um sentido estranho que se impõe no comando da vida. não se mergulha. paira-se. os rostos são os mesmos de antes. com as mesmas angústias e as mesmas velocidades. é uma inocência já previamente vista. retribui-se com um sorriso e um silêncio. deixa-se andar. o tempo dirá tudo e não é justo que se traga a obscuridade antecipada. fala-se de livros inconscientemente. de pessoas. de histórias. de gosto. de crimes. era uma bolha. estava numa cozinha em frente a uma lareira e as palavras saiam. palavras rasgadas na boca. não havia nisto qualquer tipo de inveja por posições inalcançáveis. era assim. a lareira fazia o seu apelo a coisas puras e o vinho ajudava a soltar estranhas verdades. diziam-se meias frases. por vezes alguém desistia. normal. mas não se fugia ao sentido. só não se podia dizer tudo. que havia um rio onde as palavras não circulavam. que havia músicas. que havia uma espécie de terror secreto na solidão ruidosa dos lugares pequenos. lugares de gente vermelha e com ferrugem nos ossos. lugares de vistas incríveis para o rio e para a montanha. uma estrada de curvas e água na terra. os homens trazem-te o pão. a boca procura-o simples e doce no meio do nada. bebe-se muito. os sonhos surgem mergulhados no infinito. é o que fica para depois. é o que há-de ficar para sempre.

diário

depois de uma passagem de uma semana (louca e cansativa) pela aldeia... canelas do douro... ai ai grandes amigos novos que ficaram... eis que se volta ao porto!!! amanhã começam os ensaios a sério para o pedro e inês. isto de andar sempre com a mochila às costas é prejudicial à saúde, mas a vida de um gajo é esta e tem de se deixar seguir a corrente. não escrevi nada esta semana e estas devem ser as primeiras linhas. as palavras esquecem-se facilmente e isso é complicado. mas enfim... melhores dias virão, as costas é que se queixam um bocado.

sábado, 13 de março de 2010



tudo no teatro significa. entra-se numa sala e leva-se com um podemos começar? que uma actriz nos atira às ventas como se o público fosse lixo. começa-se logo à defesa. há logo ali um momento tenso que não se justifica neste tipo de situações. enfim... está-se no Teatro Taborda e dá para olhar um bocado para as paredes para esquecer o acontecimento inicial. o espectáculo lá começa. duas actrizes estão em palco desde a nossa entrada. vestem uma roupa interior ao estilo antigo. com uns candeeiros espalhados pelo palco. mais uma poltrona meticulosamente colocada no meio de um rectângulo desenhado a fita adesiva. os dados estão lançados. o público lá se senta. espera-se que termine a música. leva-se com aquela pergunta retórica feita num tom desagradável. eu sei lá se podem começar!!! não sou eu que decido essas coisas. de repente uma das actrizes encosta-se à boca de cena e começa a atirar com um texto ao estilo moderno com palavrões e tudo, na minha cabeça começo a descolar-lhe o figurino do discurso, mais a cena desagradável da entrada e já estão a perder por dois pontos. enfim... sigo a viagem que me dão a comer com toda a tranquilidade. até gosto de ir ao teatro e estou numa fase zen. repito isso na minha cabeça e dou mais umas espreitadelas para as belíssimas paredes do Taborda. volto a fixar os olhos no palco. aquilo que é proposto é um monólogo tripartido. uma mulher. chama-se Lídia. a actriz da boca de cena que disse uns palavrões e tudo tem ali uns devaneios sobre a compra de um tal casaco e sobre uma anã. sai da boca de cena. faz um percusro pelo palco. fala de costas para o público e o texto perde-se. dirige-se para um candeeiro. fica quieta aí. começa então a outra actriz. agarra num spray que está perto da poltrona. dá uns borrifos fracos na poltrona e desata a limpar a poltrona. diz umas coisas. sobre os homens talvez. a outra actriz está ainda ao pé do candeeiro a relacionar-se com o objecto. a relacionar-se com o objecto mas em pequeno. umas coisas sem leitura nenhuma com um som de batida cardíaca por trás. camaradas, na verdade eu pergunto-me... aliás, eu nem sei se me pergunte o que quer que seja. o espectáculo lá insiste no seu percurso sinuoso. cada vez percebo menos disto. de repente começo a pensar nas coisas que poderia estar a fazer se ali não estivesse. na televisão dava o Walk The Line. mas enfim... as actrizes vão variando nos seus pequenos monólogos insipientes sobre a condição feminina. aqui tenho de dizer: foda-se!!! que condição feminina??? como se a condição feminina destes dias fosse uma necessidade carreirista de comprar um casaco e comer só arroz para o poder usar... o texto do espectáculo é, na minha opinião, francamente fraco, ou seja, é um texto lugar-comum. mas o problema de um espectáculo de teatro não é o texto. o grande problema de um espectáculo de teatro é a opção dele mesmo. é aquilo que pretende escrever. um espectáculo de teatro pretende sempre escrever-se a si mesmo no imaginário do público, pretende ficar como uma marca. pode ser uma marca mais ou menos artística, mais ou menos de puro divertimento, mais ou menos conceptual, não interessa. um espectáculo que se faz é uma proposta que se apresenta. é incrível como num espectáculo de pouco mais de uma hora se conseguem banalizar os silêncios ao ponto de se tornarem de um aborrecimento atroz!!! aliás, ao ponto de eu me perguntar se alguma das actrizes se tinha esquecido do texto!!! mas ainda não é tudo!!! eis que no meio do deserto surge a personagem zero!!! as duas actrizes viram-se de costas para o público e surge uma performer (assim lhe chamava o programa). e eis que ela entra e eis que ela se relaciona com o objecto poltrona e eis que ela se relaciona com o objecto poltrona e eis que ela se relaciona uma vez mais e mais e mais e mais e mais e mais com o objecto poltrona e eis que ela sai. e assim passou por ali uma imagem das que possibilitam leituras para o público. claro que nesta fase já estava eu a fazer contas de cabeça para conseguir perceber que tempo tinha passado e quanto tempo faltaria para terminar o vazio. porque não há nada que me custe mais do que o vazio. não dá para perder tempo com o vazio no teatro. na vida arranja-se um bocado de paciência. no teatro não dá. não há nada mais aborrecido do que o nada em si. e pronto, lá se seguiu o espectáculo. enfiado em si mesmo. um daqueles espectáculos que não pretendem sair do palco. que se assumem como experimentais mas que na verdade têm é muito pouco para dizer. e custa-me que a nova geração dê estas cartas de bandeja. custa-me que o nada se imponha nos palcos. custa-me que o futuro seja este. pior, custa-me que o presente já seja este. e depois penso: não há nada como ir a um bom concerto ou ao cinema!!! porque eu não me admiro que o público goste deste espectáculo, eu não me admiro que quem o fez acredite nele, para mim é que é apenas um pedaço de carne mal digerida. um espectáculo possível, uma primeira encenação desculpável... claro... mas com tão poucas cartas para dar a um público sedento, com uma perspectiva tão fraca em relação ao acto teatro que saí do Taborda triste... e enfiei dois cigarros seguidos para não me enervar, porque, afinal de contas, estou numa fase zen.

quarta-feira, 10 de março de 2010

é uma dimensão paralela. ele caminha na direcção do balcão. na sua rotina habitual. pede uma bebida quente. alguém lhe pergunta como estão as coisas. ou se aponta a bebida na mesa de sicrano. ele atira com a bebida para o chão. anda em volta do balcão como um animal numa jaula. exibe uma explosão de raiva interna ao andar. todos o olham menos sicrano. sicrano mantém a sua ignorância de nojo e falcatrua. as mesas todas voltam ao jogo. ele pede outra bebida quente. tenta manter a sua rotina. alguém no balcão se desculpa. ele diz que não há problema. que há vida para além de sicrano. olha para o lado e vê um objecto gigante e frágil com umas rodas. nas mesas todos jogam. até sicrano na sua ignorância de nojo e falcatrua. ele sobe para o objecto. dança com o objecto numa fragilidade exibicionista. a sua vida está em risco. as mesas param de jogar e observam os movimentos frágeis e rotativos que ele executa com aquele objecto. sicrano insiste na sua jogada ignorante de nojo e falcatrua. de repente, a meio de um rodopio perigoso do objecto, ele pergunta-se o que estará a fazer. olha para todos os lados. pão e circo. jogo. sicrano fechado na sua ignorância de nojo e falcatrua. ele desce do objecto. caminha em silêncio pelo meio das mesas de jogo. dirige-se para a saída. lá fora a luz começa a aparecer.

terça-feira, 9 de março de 2010

a bela e o monstro, apontamentos pessoais

não se sabe se é certo que os pontos limite do mundo se encontram no infinito. no infinito ou na realidade. diz-se que se encontram. isto assume-se como verdadeiro. que tudo se abre até que se anula e outras grandes verdades dos livros mal cheirosos da filosofia. o que acontece na bela e o monstro não é um encontro entre um homem e uma mulher. não é uma comunhão solene da beleza e da bondade. o que acontece é um encontro sagrado entre o belo e o feio. por estranho que pareça, tudo aquilo que há de belo neste mundo acaba por ter um ponto equiparável no campo do horror. só o belo anula o horror. há uma estranha inclinação para o obscuro quando se está na luz. o tema da bela e o monstro não é o amor. tal como o tema de romeu e julieta não o é também. bem vistas as coisas, nenhuma história dos romances sagrados universais se baseia numa questão não conflitual, há sempre um combate absoluto por detrás da acção. aqui temos o caso pedro inês, que, se não fosse a crueldade que criaram no desenlace, nunca tinha passado da mera novela palaciana. ainda acredito hoje que a tragédia é o ponto mais elevado da criação teatral e literária, nada consegue escapar ao ponto elevado da tragédia. a bela e o monstro, mesmo que a transformação do feio se efectue no final, que o mundo fique belo, que as almas se tornem possíveis, não deixa de mostrar de uma forma crua toda a mediocridade das irmãs e do mundo que atirou para as trevas aquele que era o feio, tornado feio. há uma estranha necessidade de maldição e há uma estranha necessidade do exorcismo dessa mesma maldição. não é uma questão de amor. quando ela volta atrás não é por amor. ela volta por uma questão de piedade. há um sentido de justiça que se cumpre no regresso. como se fosse o amor a cura para o feio. o monstro diz que o poder da mulher é ver a beleza. e quando ela vê a beleza ele transforma-se. é um encontro estranhamente necessário. numa escala gráfica o ponto mais elevado da história acontece quando ela o vê. quando ela o vê belo é quando acontece a cura, mas essa cura já é apenas uma consequência do terror. o encontro entre o horror e a luz é um encontro que toca no sagrado. são-se essenciais. um não existe sem o outro. sabemos o que é belo porque conhecemos o que é feio e o mesmo vice versa. o horror da tragédia só faz sentido na sua libertação. a libertação só pode surgir de um aprisionamento.

domingo, 7 de março de 2010

suicídio de mark linkous





lá fora a guerra caminha nos seus passos dourados da lamentação e do desgaste. são as sombras. são as vozes políticas. slogans. impressos. imprensa. uma luta no meio do ferro e das pedras e do pensamento e da fome. é um desfile macabro de cidades. cidades ruína. com os habitantes insectos que se alimentam do caos e do silêncio. todos na mesma direcção. todos na mesma direcção. uma lei que se repete até que o corpo se encontre deitado no seu desgaste precoce. muda o tempo. uma lentidão nasce no fluxo de dentro. rupturas com os laços. mundo na rua. revoluções. convulsões. o sol brilhante nas manhãs do mundo. nas páginas brancas caminham as direcções de todos. surgem como aparições sagradas diante dos olhares alheios. só queremos o que é nosso. tudo nos pertence.
tocava a luz no centro dos olhares como uma espécie de música
os outros desconexos na vontade alheia dos dias de cinza
era o fumo era o fumo chegava e como que cantava a salvação
depois do caos o abismo incendiado nas manhãs ardia na boca

pequenos animais com um sentido carnívoro no meio do fogo
alucinantes e em espera continuada no meio da melancolia
os vidros baços com a poeira das imagens consumidas
carne metálica cabeça soltando ritmos de abstração

vivia-se assim no sentido da estranha forma da espera
por vezes um ruído de fundo picava a base do pensamento
o nada de ninguém os livros palavras voadoras

o frio da guerra medo infantil cravado na pele
depois ficou-se pelo caminho a ilusão discursiva do nada
transformado em vazio depois do sangue misteriosamente coagulado

domingo de manhã...















sexta-feira, 5 de março de 2010

caderno

como escrever? este peso tem-me atormentado os dias. se se mergulha demasiado pode acontecer que não se veja o fundo e que seja tarde para voltar acima. o estado intermitente é o pior. escrever é um vício. pode passar-se a vida toda a escrever sobre o vício. mas qual é o interesse disso? isso já é um dado adquirido. é preciso enganar as frases e disfarçar o vício. tornar o vício da escrita numa espécie de parasita. descobri que não se pode ter estilo. quer dizer, é inevitável ter um estilo, mas não se pode ficar refém do estilo. a voz está lá sempre. a voz não é o estilo. só a voz é que escreve. o estilo abusa facilmente da armadilha. o estilo quer o quê? o estilo quer a sua vaidade. logo o estilo procura a vaidade. o estilo julga-se perfeito, é um estilo. a voz não se julga perfeita nem imperfeita. a voz é a necessidade. um estilo pode construir-se. uma voz não. há escritores de voz e há escritores de estilo e há escritores de voz e de estilo. todos com as suas características. nada pode ajudar alguém a escrever. a única coisa que pode ajudar alguém a escrever é a solidão. não há forma de controlar isto. escrever de manhã é o melhor. não que a magia da noite não seja sedutora. mas nada como escrever de manhã. quando o corpo ainda está naquela fase de pré-acção. quando a cabeça está mais desenvolvida do que o corpo. de manhã a escrita sai com muito mais naturalidade. a noite é para a poesia, sabe-se lá porquê, talvez por alguma causa energética. talvez por causa da luz. a escrita pode ter aqui uma comparação com o sexo. por exemplo: se se pensar na diferença do acto sexual. no acto sexual de manhã e no acto sexual de noite. ou talvez isto seja apenas na minha cabeça e ninguém concorde com isto. mas eu acho que há uma maneira de encarar as coisas de uma maneira completamente diferente. enfim... volte-se ao assunto da escrita. há quem precise de silêncio para escrever. eu gosto de escrever com música. não gosto de ler com música. não gosto de me ler com música. não que não escreva em silêncio. a questão é que gosto de dançar. gosto de escrever dança. gosto de escrever dentro da cabeça ao andar. é preciso escrever constantemente. chega-se a uma altura em que não importa o quê. claro que há sempre a questão: o livro. o que é o livro? o livro é um formato. também o teatro é um formato. entre os dois talvez prefira o livro. um livro é uma espécie de encenação de palavras. mais ou menos. quando se escreve chega-se a um ponto em que as coisas deixam de sair da cabeça. aparece a voz. de repente é a voz que escreve. a voz. a voz da escrita é como a voz do actor. ela tem de ser aquecida. ela tem de ser aquecida para que deixe de lado toda a treta, para que deixe de lado o estilo, a voz tem de ser mais alta do que o estilo. o estilo é o meio que a voz usa para se escrever a si mesma. porque é que não tenho conseguido escrever ficções? ou até que ponto esta amostra do interno é justa? ou até que ponto se consegue aguentar a saturação? não há respostas. cair no carácter diarístico é a armadilha constante da escrita. a estética da crise é uma estética sempre estranhamente apetecível. cada vez é mais difícil fugir da violência. está-se de tal maneira mergulhado em violência que se torna quase impossível escapar. comem-se as suas imagens constantemente. os heróis são os que abusaram da violência, são os que sobreviveram ao caos, são os que salvaram vidas, são grandes feitos que vencem o caos. não há heróis correctos, por assim dizer, heróis correntes. há sempre uma vitória no caos. há sempre o contraponto caos. a balança apresenta apenas dois lados, é o vício ocidental, o eterno combate herói vilão. depois a escrita e a construção de ficção criaram a vítima.

quarta-feira, 3 de março de 2010

os fascistas são burros.
os racistas são burros.
os nacionalistas são burros.
ponto parágrafo.
homenagem ao rini!!! grande camarada deste blog!!!

swans

os swans foram uma das minhas bandas preferidas durante uns tempos. ainda cheguei a ver os dois principais membros, embora em separado, michael gira e jarboe. enfim... agora que ando numa de pseudo-retrospectivas. e também para dar também uma dinâmica a este jovem blog. e também para ir clarificando o universo e as influências estéticas... porque isto ainda é um blog pessoal... aqui fica um video e o link para a página oficial dos swans. este video não é oficial.




página oficial aqui: aqui!!!

terça-feira, 2 de março de 2010




antonin artaud. um dos pontos mais absolutos ou absurdos do ritual em combate com a vida. escritor único. actor. teórico visionário de uma força maior. provavelmente errado desde sempre. louco furioso. que viu o teatro transformar-se em sombras dentro da sua cabeça. ou a sua cabeça transformar-se num grande teatro de sombras. e de gritos. e de máscaras gigantes. e de crueldade. crueldade exacta. que depois de se auto-santificar passou uns belos tempos como uma bruxa nos asilos de alienados. que descobriu um sentido metafísico para o grito. que criou um programa radiofónico para que as suas palavras se difundissem como ondas electromagnéticas até ao despertar das consciências. até um despertar último. uma última visão possível do teatro da crueldade. que hoje se torna apenas um pouco de exotismo. um programa que a emissora nacional. a frança útil. o comodismo. talvez todo o mundo ritualista. programa vítima da censura do sono. um programa que despe já com uma antecipação brutal toda a imposição deste sistema que tem como base um exemplo perverso e bélico. o sistema da pornografia americana. o estado único. a carnificina global. mas as palavras são palavras... aqui fica, via rapidshare, a sessão radiofónica censurada: aqui!

é o que ando a ouvir






site aqui: aqui!

modo cinema limite


segunda-feira, 1 de março de 2010

a ferida teimava em manifestar a sua presença na vergonha dos dias. insinuava-se castanha no pulso. umas linhas direitas com uns pontos que a atravessavam dos dois lados. se naquela noite de inverno... se naquela noite de inverno tivesse seguido a estrada. com o corpo no frio limite da vida. depois da explosão violenta da verdade diante dos olhos. depois era tarde. talvez a vida por vezes seja apenas um abrir e fechar de olhos. talvez quando os teus amigos te limpam o sangue do rosto, quando o medo se apodera do vazio, quando a acção se desloca para um ponto autónomo. há um risco que começa a desenhar-se nesse preciso momento. o maldito acidente. depois do momento flash em que o nada desfila na boca como um ácido. a vergonha consciente da merda engolida na luz branca dos hospitais. inventar frases para os pontos. cada um deles é uma diferente conjugação de palavras. e os ferros atravessam a pele. tiram vidros de dentro do corpo. uau. tiram vidros de dentro do corpo. e um dia até tiram os malditos atilhos que prendem os dois lados da pele afastados pela violência do passado. mas eles estão lá para sempre. tatuados. como uma máscara insurrecta e pornográfica que mostra um vazio eterno. um vazio que é mais do que uma sombra. que é como um nome que te dão num qualquer nascimento para as coisas. a morte não tem a ver com isto. os vidros não estavam dentro do corpo porque ele quisesse morrer. não. os vidros estavam dentro do corpo porque o corpo talvez precisasse dos vidros para uma luta com um grau superior da solidão e dos fantasmas. não tem a ver com controlar nenhuma forma de angústia. não diz também respeito à morte. os braços brancos que aniquilavam a carne quente de repente superam-se a si mesmos. a carne quente num acto de emancipação revolta-se com a sua condição de dejecto. flash. garrafas partidas. parede. merda. rua. não que isto tenha de ser relatado. porque isto não tem de ser relatado. isto é meu. isto sou eu. e eu estimo bem que se foda qualquer relação de circunstância com o maldito acontecimento. ponto parágrafo. nada mais a declarar.
um estilo: andar fascinado/obcecado por imagens de fim. claro que o estilo útil deve ser uma anulação da sua própria forma. como se a cabeça se manifestasse com uma fome descontrolada de imagens. de repente vale tudo. tudo o que se transforme em voz. porque o estilo é uma voz. uma voz que fala lá do fundo da memória e se projecta no futuro. digerindo a vida. digerindo tudo. a verdade e a mentira. a respiração e a morte. um estilo: nada de sonhos. nada de imagens inconscientes. cada vez mais uma transformação de paisagens surdas em mecanismos linguísticos. um estilo que é directamente roubado da digestão do caos. não do caos. o estilo diz: medo. e o enigma cria o medo. e o que se busca não é o medo mas a resolução concreta do enigma. e o estilo é um enigma. e o enigma é a voz. talvez seja por isso que todas as pessoas se centram numa forma específica de ritmo. ritmo cardíaco e ritmo de pensamento. porque a voz ocupa um lugar marcante na vida. depois de resolvida a questão da voz e do ritmo pode acabar-se com o caos. o fim do caos é o domínio absoluto da língua. é a língua em estado puro. é um combate mortal de palavras, com novos significados sintáticos e meta-gramaticais. numa convulsão absoluta a língua deve assumir o seu estado puro de desenvolvimento. muitas vezes o desenvolvimento confunde-se com a origem. isto não é um sonho de regresso. o regresso é impossível. um estilo deve ser uma porta que depois de aberta não permite olhar para o passado. a voz da língua não aceita a dúvida. ela reinventa-a. a gramática interna é superior a todas as escritas. não há lugar para linhas. os textos são disparados para todas as direcções.

carrega na imagem e dá de comer a esta crise