quarta-feira, 28 de abril de 2010

e pronto... pensar que talvez este regresso não tenha afinal sido em vão... um gajo vai trabalhando, o dinheiro é pouco mas vai dando para comer umas porcarias do minipreço!!! às vezes aparecem umas saudades do tempo, esse grande sacana, umas saudades que provocam uns acessos de alguma coisa incompreensível, alguma coisa bárbara. a seguir vou ter uma experiência que promete!!! mais uma vez uma experiência que promete!!! o problema está todo na construção de ilusões. por vezes vai-se para casa com um sentimento de deriva... é o teatro, o maldito teatro. diz-se assim: mas é o teatro que te faz seguir! pois sim, deixa-me estar mas é calado!!! hehehe mas enfim... apesar de tudo é fixe andar bem disposto e ter conhecido gente bastante agradável!!!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

- hoje pensei numa coisa. não deixa de ser triste olhar para o mundo e ter a certeza de que nunca se irá ter nada.
- então?
- estava a passar por uma cidade à beira mar. e fiquei a olhar para todas aquelas casas. tudo em volta era verde. era uma cidade estranhamente confortável.
- será inveja da posse?
- não. é o mais absoluto desperdício de tempo sentir inveja. é só sentir que as coisas poderiam ser justas. muito mais justas.
- sabes que o mundo vive na maior inconsciência que lhe é possível?
- sim. só assim se sobrevive ao caos. no dia em que todos acordarem poderá vir o colapso.
- talvez seja o colapso que faça mover tudo. sabes? como um despertar.
- já acreditei nisso em tempos. hoje prefiro sentir os dias como inevitáveis. as pessoas respiram merda. não faz qualquer tipo de sentido querer o melhor para a espécie. um dia acabará finalmente tudo.
- é uma resolução.
- sim, não uma revolução.
- há aquele escritor que fala da saturação e da resolução. será que este é o ponto máximo da saturação?
- infelizmente não o posso dizer. certamente que virá pior. só não posso dizer o mesmo em relação ao melhor.
- somos uns pessimistas.
- sim. convictos.

a juventude é eterna

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Logorama from Marc Altshuler - Human Music on Vimeo.

uma equipa de futebol é composta por jogadores de várias características que são contratados para que cumpram objectivos específicos ao longo dos jogos e ao longo do tempo, são contratados para que cumpram várias funcionalidades e para que ofereçam ao treinador um leque de possibilidades e escolhas para o mais variado tipo de problemas. nenhum jogador, em príncipio, gosta de ficar no banco. nenhum jogador que se considere que esteja no pico da forma e da vontade de ganhar gosta de ficar sentado enquanto vê a sua equipa marear no jogo, porque um jogador acredita sempre que pode de alguma forma contribuir para a vitória, para o desejo máximo do grupo de trabalho em que se encontra. há equipas de estrelas e há equipas de operários. sempre acreditei mais em equipas de operários do que em equipas de estrelas mas o meu ponto não é este. há vários patamares de qualidade dentro dos jogadores, até há mesmo jogadores de qualidade que nunca vão vingar... seja qual for a razão para esse facto, o que é certo, é que um jogador é bom ou vai melhorando enquanto lhe for permitido jogar, a razão de um jogador é o jogo, o jogador joga, esse é o principal objectivo da sua vida. quando um jogador sente que não joga por alguma razão alheia à conjuntura é impossível ficar satisfeito. porque um jogador não pode pedir para jogar, aliás, um jogador pode pedir para jogar mas esse não é o meu estilo de jogador. a única estratégia que um jogador deve utilizar para se impor numa equipa é o trabalho. um jogador que não jogue mas que trabalhe como os outros ganha uma crise de confiança que lhe vai ser prejudicial e que pode afastá-lo para sempre da sua equipa. um jogador quando se vai abaixo afasta-se, só pensa em sair para uma equipa em que possa jogar, mesmo que seja uma equipa de uma linha mais abaixo. um jogador precisa de se sentir vivo no seu trabalho. um jogador pode ter tudo ou não ter nada, mas tudo isso lhe será indiferente se não jogar. não há nada mais saturante do que piscadelas de olho ao treinador. um jogador que faça os possíveis para jogar através de simpatias para o treinador é um jogador que seguirá o seu caminho estelar mas que nunca será verdadeiramente bom. o jogador que nunca tenha oportunidades para jogar também nunca será verdadeiramente bom. o futebol é um meio estranho. o problema é que no teatro é igual.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

era um rapaz de tal forma caguinchas que ninguém dava um tusto por ele, nem ninguém dizia que ele se fazia. era um cagarolas da treta que tinha a mania que enchia o espaço com a sua imbecilidade culta, com uma mania de superioridade latente. acho que até lhe faltava um colhão, mas como tinha lido muitos livros e visto muitos filmes... tinha conseguido ganhar um harém de frustrações que o circundavam como um sistema de planetas em volta de uma estrela decadente. cruzava-se comigo de vez em quando e eu sempre que o podia evitar era coisa que nem hesitava, toca a passar para o outro lado da rua ou a mudar de mesa de café. dava-me um certo asco nas entranhas a sua presença, tão gigantemente insignificante. chamava-se um nome que eu não posso dizer. aliás, até se torna ridículo falar sobre ele. mas se lhe dedico agora uns momentos do meu reles tempo é porque havia algo que ele tinha atingido. ele tinha uma magia. era um ser inútil mas que tinha uma magia. era um crápula dos piores, dos que fazem vomitar os mais ressequidos abutres, um crápula frustrado que deveria dormir sempre em camisa de noite com umas peúgas rosinha e um barrete com um pompom na ponta. diz-se que tinha a pissa metida para dentro. não sei e nunca tive o desejo de saciar essa curiosidade mórbida. até quando lhe esboçava um sorriso ou um simples cumprimento na distância o meu corpo reagia aflitivamente. o anormalzinho mais insurrecto que algum dia tive o desprivilégio de conhecer. é-me bastante clara a sua imagem. rato autêntico. mas um rato daqueles ratos tristes, um rato magro e enfezado, mal formado na sua mais profunda melancolia de ser inteligente, ou ser superior, que não se mesclava com a gentalha decadente, com a plebe, com os da rua... mas que ia constantemente pintar a manta de povinho vai com todas para as mais míseras tascas e tascórios e que, ainda por cima, fazia disso a sua bandeira de humildade ganha a custo nas calçadas da vida. ai, quase que vomitei ao escrever estas palavras. voltando ao tema da sua magia. a sua magia era uma comédia de lamentos, as pessoas que fazem as medalhas do sofrimento e que ao mesmo tempo exibem a sua infinita sapiência de queques sem princípios merecem todas a forca. não a forca normal, antes uma forca que tenha espinhos na zona que toca no pescoço, espinhos que provoquem gritos lancinantes antes da morte que deveria ser tudo menos rápida. então um dia, o nosso gigante deu um tralho épico nos confins do mundo. o pior foi que no movimento da queda me levou um livro e mais meia dúzia de anos de vida. sacaninha reles o gajinho. sempre que estava por perto, a sua influência revelava-se maligna em todos os meus caminhos. comecei a desconfiar daquilo tudo e fui mesmo a uma bruxa para me lavar dos males. era impossível. a bruxa nada podia fazer contra o feitiço que ele lançara sobre mim. tinha-me ocultado a luz com uma núvem de pó e de esterco. tinha-me mergulhado em episódios de falcatrua. ele chegava com o seu harém de falsidade e lamentação e zungas... lá me ia eu pelo cano. o filha da puta do ratito. mas eu juro, ai juro juro, um dia cruzo-me com ele na rua, não passo para o outro lado, vou-me a ele, chego-lhe com estes cinco dedos da direita, estejam abertos ou fechados, e lá se vai o encanto desencantado. o cabrãozote, coleccionador de tufos de pintelheira e outras tretas capilares, chega e lança a manta da repressão e tudo lhe baixa a bolinha batendo continência ao espertinho. mas eu sou um gajo fodido. eu já não fico a ver os navios a passar como fazia antigamente, nada disso, eu é pau para toda a obra, já não me deixo pisar por intelectualices, para intelectual intelectual e meio. não me interessa que tenha o harém com a mais brilhante de todas as putas. que tenha a mais puta de todas. para mim é-me igual, as putas nunca me interessaram, nem sequer como tema de composições filosóficas ou o cacete. chegas ao pé de mim e parto-te os cornos. amasso-te a cornadura meu safardanas cócózinho. eu vou-me a ti. livra-te que eu te veja a rir ou a abrir a boquinha miserável que tens enquanto estiveres na minha presença. zungas, sentes alguma coisa a ir na tua direcção e há-de ser alguma coisa dura, isso te prometo, pontos na cabeça não te vão faltar. seu rodriguinho miserável. seu barroquinho nojento. seu quinane irrecuperável. ainda hoje, se não me seguram, meto-me na estrada e ala que se faz tarde, vou-me a ele, onde quer que esteja. que hoje está realmente um belo dia para se matar alguém. deve ser da primavera. ora terem-te dado um par de galhetas bem dadas quando eras puto e já nada disto acontecia. que aquilo que tu precisas é de te meter com uma gaja que te agarre na pissa com os dedos todos e que te arranque o teu pequeno marsápio até te esqueceres de quem és. meu grande cona da tia velha. até me fazes lembrar muito mas mesmo muito vagamente um certo rasputine, mas dos que não fode nem sai de cima.
porque eram seres de uma perfeição que tocava na cegueira. mortos debaixo do sol. vivos na noite dos destroços. derivas. dejectos. carne amontoada nos antros perdidos. espectaculares. amontoados de plástico e de tinta. viagens pelo vazio. escritos no caos da sua simples morte.

noite-nervo

há histórias que perfuram a cabeça mesmo junto dos ouvidos
são gárgulas que vomitam com a voz cortante de um passado
coisas que recusam o desaparecimento
janelas
gavetas
diz-se que dava pontapés debaixo do rosto
que mordia a língua como se isso libertasse a vida
como se isso fizesse desaparecer feridas profundas
marcas tempo situação amargura claustrofóbica
ir para a rua para procurar tabaco ou uma voz doce
uma voz que entregue um sentido novo para a ruptura
a ruptura do fora com o dentro
do dentro com o fora
acabados os enigmas
o pó repousa sobre o corpo imóvel
nenhuma contemplação possível
e as luzes desfilam
absurdas
sem qualquer espécie de ar

terça-feira, 20 de abril de 2010


e encontraram-se. e disseram: vamos para onde? e responderam: não importa. meteram-se numa carruagem e foram à deriva. era uma viagem que quase tocava na água. andaram umas horas e sairam numa cidade pequena. sentaram-se. e falaram a sério pela primeira vez.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

um sonho quase ao acordar. era uma agulha. um espigão amaldiçoado de ferro. uma agulha que precisava de sangue. precisava de encontrar um pedaço de carne vivo. um corpo. quando não o encontrava era preciso segurá-la com toda a força possível, porque ela atacava. atacava. como uma necessidade superior de sobrevivência. uma agulha amaldiçoada. não me lembro quem estava comigo. lembro que estava num local elevado com vista para um jardim. eu tinha a agulha na mão e evitava a sua revolta superior. fui a uma varanda e tentei atirá-la ao jardim. ela estava colada à minha mão e fazia toda a sua força para conseguir dar a volta e espetar-se no meu dedo. eu tentava como louco atirá-la para fora da minha mão. impossível. de repente, da agulha, começam a sair espigões. uma corola de espigões malignos. que se vão tornando gigantes com o desespero da fome. uma agulha cancro. maliciosamente brilhante como uma estrela. saí do edifício a correr. desci os degraus aos saltos. a corola não parava de crescer. passei a porta. atravessei-a. os espigões começaram a furar-me o corpo. eu com o braço esticado. olhos. peito. veias dos braços. ombros. caí no chão. uma mancha carnívora. acordei.

quinta-feira, 15 de abril de 2010


saturados de informação. sedentos de conhecimento.

a homenagem do dia


e se de repente uma estranha vontade de fuga se apoderasse de todos os sentidos. se de repente fosse uma identidade ocupada por animais mínimos. um desejo de imensidão. um desejo de estar de fora deste invólucro que é liberdade e ao mesmo tempo saturação carnívora. era a vontade de agir sobre as moléculas do corpo. o eterno chamamento do abismo. porque o corpo torna-se apertado para a sua treta. o corpo invadido pela luz opaca das cidades. das ilusões. que a realidade não visita. e se de repente ao andar descalço nas colinas do mundo, se de repente uma luz fragmentasse tudo. voar pela imensidão do caos. chocar com partículas de dimensão absurda, tão absurda quanto a minha, chocar com semelhantes sonhos, viagens, mentiras, verdades, ilusões, se chocar provocasse uma fusão dentro da realidade criada pelo desejo absoluto. mundo. estranho e inquieto mundo. metido na deriva de si mesmo. implosivo. porque o homem é um buraco negro que suga a sua matéria total. entra-se num lugar de ninguém e sai-se do lado do nada. menos do que nada. depois do sofrimento. depois do grito perder o sentido e as imagens serem tão abstractas quanto a morte. que desfilam em janelas binárias. que por vezes até possuem uma voz ridícula. que até se pavoneiam como soldados diante do grande imperador futuro. mas o futuro... esse que não pertence a ninguém, ignora os olhares informáticos, ele enfia-se nos casulos insectos da realidade. e eu ando aqui. e se de repente uma descarga me saturasse de tal forma que eu passasse para dentro da terra. como um condutor de linhas. se se se se. e se de repente o nada. ali tão perto da minha mão. ali tão perto da cabeça. ali o caos debaixo da minha cabeça de olhos. e as vozes que são palavras que se tornam gigantes no seu nada. que o asco visita o estômago quando elas se intrometem furtivas na cabeça. vozes espalhadas por ecrãs. vozes que são despojos de plástico e segurança. corpos de plasticina. magros. obesos na sua pornografia. pornográficos na sua vaidade. vazios no seu desejo. com milhares de línguas que lhes percorrem a boca. seres de olhos inquietos. seres de ouro sujo. mergulhados na areia. como míseros vermes do passado. queimadores de livros e de palavras. riso. evasão. electricidade. tudo é físico nos lugares que me percorrem. sangue. e se de repente. e se de repente. e se de repente. corte abrupto no discurso. nas estradas lineares que o meu olhar percorre há algo que faz sorrir os dias. o resto é o zero. a morte virá lenta.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

- é verdade? isso tudo?
- às vezes tento que sim.
- porque não usas símbolos?
- porque não gosto. a vida já não tem símbolos.
- segues quem?
- henry miller. deixa-me rir. sei lá quem sigo. uma voz.
- uma voz?
- sim, a escrita é uma voz.
- ou seja, o processo de fixação da voz...
- é a literatura. a literatura é um estilo. uma voz não é um estilo.
- a voz não é literatura?
- não. só o processo da sua fixação.
- porque não escreves mais?
- porque desenvolvi um bloqueio. fiquei preso numa meia dúzia de textos.
- explica.
- mergulhei num conjunto mínimo de palavras e custa-me sair delas. como se elas fossem eu. custa-me sair de mim. por isso o teatro actor se me torna difícil. porque as pessoas por vezes têm de esquecer-se delas próprias.
- e isso quer dizer que?
- que por vezes tens de te esquecer de ti para poderes continuar o teu rumo.
- voltemos à escrita. à voz. a voz aparece?
- não. a voz está lá sempre e vai-se tornando cada vez mais ruidosa. a voz é uma espécie de solidão. ninguém lhe fala. ninguém a pode deitar abaixo. ninguém a pode criticar.
- acreditas que ninguém pode destruir a voz?
- sim. ela pode ficar abalada ou fraca mas nunca pode ser anulada. só o suicídio pode silenciar a voz. ninguém pode, por não ser possível. a voz mesmo que não se torne literatura insiste-se por dentro.
actos de canibalismo bárbaro na cabeça dos outros.
cicatrizes mais sangrentas do que feridas.

escrever sem verbos. escrever sem acções.
substantivos. coisas. nomes de coisas.
definições de coisas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

22 janeiro 1946 - 8 abril 2010



Eu sou o anjo do desespero. Com as minhas mãos distribuo o êxtase, o adormecimento, o esquecimento, gozo e dor dos corpos. A minha fala é o silêncio, o meu canto o grito. Na sombra das minhas asas mora o terror. A minha esperança é o último sopro. A minha esperança é a última batalha. Eu sou a faca com que o morto abre o caixão. Eu sou aquele que há-de ser. O meu voo é a revolta, o meu céu o abismo de amanhã.
Heiner Müller
primavera
algo em mim se torna volátil
ando em círculos
com a vida às costas
não consigo pensar direito
não consigo escrever
não tenho orientação
as viagens saturam
as feridas não curam
tudo demasiado lento
as costas do avesso.
pouco dinheiro para viver.
dormir mal.
andar com o nariz entupido.
comer mal.
os ouvidos por vezes quase que rebentam com as conversas.
estar impaciente.
estar sem simpatias.
estar sempre em viagem.
descansar pouco.
nunca se sentir limpo.
estar vulnerável.
estar de volta.

sábado, 10 de abril de 2010

perspectivas do medo




se realmente se pode dizer que há uma influência... será esta a maior de todas as influências. não que outros não o tenham feito de uma forma mais pura ou mais adiante no contributo para a coisa, mas este conseguiu um acto de condensação imenso. um livro fragmento. um livro fragmento que no seu todo é uma construção de um absoluto quase mágico. um livro fórmula.

sexta-feira, 9 de abril de 2010



alguém meteu esta foto no facebook e eu roubei!!!
uma pausa no ensaio d'a cantora careca, de ionesco.
encenado pelo mestre joão paulo costa, produzido pelos extintos murmurarte.
no teatro latino...
no ano 2000...
- afinal queres o quê?
- posso não saber?
- depende. desde que não te fixes no passado.
- o que é isso do passado?
- aquilo que foi. não importa. é preciso seguir.
- já não tens nada a dizer-me. eu posso ficar onde pretender.
- és insuportável.
- desde sempre.
- chega disto.
- o que é isto?
- isto.
- boa resposta. tens uma cabeça miserável.
- acho melhor que não voltemos a isto.
- o que é isto.
- cala-te.
- quando achar conveniente é o que farei.
- isto já não é nada.
- isto? o que é isto? estás sempre a falar disto.
- isto. este tempo. esta falta de ar. este lado vítima.
- já percebi. estás a falar de ti.
- não. estou a falar de ti.
- de mim? não podes falar de mim. tu não me conheces.
- forças sempre a tua fragilidade.
- não estou habituado a usar esse tipo de bandeiras. vês? não me conheces.
- vou.
- vai. há uma coisa que te devo.
- o quê?
- a violência. já podes ir.
modo NOITES BRANCAS
haverá literatura depois de Dostoiévski?
por vezes tão pequeno se sentia que era capaz de passar debaixo das flores.
projectava o mundo à maneira da sua cabeça.
por vezes gostava disso.
por vezes não.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

-pois, já não te punha a vista em cima desde o ano passado.
-é verdade. estou mais magro, não achas?
-sim, estás mais magro e com o cabelo maior.
-é o costume na vida, e a sorte é que vou cortando as unhas.
-estás com bom aspecto. melhor do que eu.
-as coisas correram-me bem, sabes, o mundo não deixou de rodar depois daquilo.
-ainda bem que pensas assim.
-tu também devias pensar.
-chega. já não podes dizer-me mais como pensar.
-eu sei. isto era só uma coisa que eu penso que tu devias começar a fazer.
-acreditas na vida depois da morte?
-não.
-e acreditas que morremos um pouco todos os dias?
-sim, talvez.
-e acreditas que há dias em que morremos mais do que outros?
-sim, é possível que sim.
-pois eu morri um bom bocado depois daquilo. mas tu estás mesmo com bom aspecto.
-obrigado. estás a deixar-me com vergonha.
-deixa lá isso. passámos tanto tempo juntos que a vergonha é uma mentira.
-sabes lá tu, talvez a vergonha nunca tenha desaparecido.
-não quero ter estas conversas agora.
-nem eu. mas parece que tu atrais isso. esse teu peso.
-vai-te foder mais o meu peso. nunca és capaz de falar do teu peso. porque tu tens um peso. tu também tens um maldito peso que não te larga. que também me pesou nos ombros.
-tem calma.
-não tenho calma nenhuma. não me peças para ter calma.
-foi um engano ter-te encontrado.
-foi um engano ter-te conhecido.
-e agora?
-hei-de apagar-te de mim.
-claro.
-seguiremos cada um o seu caminho. ambos diferentes. ambos perversos.
-isso não é de um livro?
-ui... também já lês?
-filho da puta.
-eu sei. chega desta treta. dás-me vontade de vomitar.
-vai-te embora.
-vai tu.
-contamos até três e vamos os dois.
-pode ser.
-conta tu.
-não, conta tu.
-está bem.
-pensando bem, não contes nada. vai morrer longe. adeus.

terça-feira, 6 de abril de 2010

nesta altura não há nada como escrever poemas tristes... quando tudo está do avesso.
então, dizem as más línguas, o nosso santo programador cultural, nosso ou de alguém, que eu acho que sou cada vez menos do fundão, enfim... dizem as más línguas que o nosso santo menino programador cultural está farto da situação... falei com uma carrada de más línguas que não o suportam e que dizem que ele está realmente farto, incrivelmente nenhuma má língua me soube responder ao porquê da sua continuidade... é realmente abstracto... então expliquem-me: o programador não programa e, para além disso, está farto, o que é que ele faz??? ah, já sei, recebe ordenado! pois pá, realmente a coisa é simples quando vista desta perspectiva. o menino exibe a sua presença aleatória pelo povoado fundanês e no fim do mês é nada mais nada menos do que um chorudo cheque que lhe entra na conta!!! isto é um roubo descarado! pior, isto é sacanice pura! isto é atrasadomentalismo velhaco! segundo as más línguas o menino já percebeu que a sua presença deixa a desejar... ora a única razão para o brinde da sua presença é mesmo o cheque ou a transferência que os cidadãos exemplares lhe pagam mensalmente. é mais uma vergonha que desfila diante dos olhos de todos. ninguém diz nada. quem cala consente. quanto tempo mais aguentará o senhor mega programador na mega cidade fundana??? só deus sabe... bem, talvez tenha empréstimos para pagar e contas e o diabo a quatro... mas isso não é um problema dos cidadãos exemplares... isso é um problema do santo programador... qual seria a melhor acção programática do nosso santo programador? demissão! aposto que toda a cultura do país ganhava imenso com isso. talvez se ele se demitisse chegasse a ministro!!! ora isso é que era de génio! num país de cegos quem tem um olho é rei. a isto chama-se fazer pela vida... e só faz pela vida quem quer, ou será que é quem pode??? enfim... aceitam-se apostas em relação ao tempo que se manterá esta situação. que miséria. os meninos bonitos da política quase nunca são meninos bonitos das pessoas. é o triste país que temos. não há qualquer razão para o fundão ser diferente.

e da cidade surge uma estranha força luminosa
a memória dissipa-se
os membros tornam-se estranhos aglomerados de papel e cinza
máquinas de ruptura saturada pelas ruas
corpos falantes
casa zero
sensação de falta de ar
alimento nenhures
rumo através do sussurro do vento cortante
imagens
meros nadas
desconcerto

segunda-feira, 5 de abril de 2010

de volta ao porto depois de umas horas no fundão... os nervos da terra... se fosse fácil esquecer tudo... mas isto são demasiadas reticências para pouco a dizer...