quarta-feira, 30 de junho de 2010

o Teatro Municipal da Guarda é um teatro que serve todo o interior do país. é um facto inegável que a sua programação é das melhores a nível nacional. é um produtor activo de cultura e de desenvolvimento das mentalidades da chamada Beira Interior. é algo que pertence a todos. é um teatro que cobre toda uma região esquecida pela cultura litoralista e centralista dos sítios do poder político e económico. o Teatro Municipal da Guarda vive agora com o fantasma de uns cortes absurdos no seu orçamento, por força de intrigas mesquinhas que ultrapassam a dimensão do razoável. por favor, vejam toda a história contada pelo director do TMG aqui!!! vejam, divulguem, manifestem-se. precisamos de nos bater pelo que nos diz respeito. um país que não reconhece a cultura como algo de necessário para o seu desenvolvimento é um país que vive nas trevas do humano, não deixemos que Portugal seja assim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

e é assim... somos um país muito pequeno e com graves problemas de segurança própria e auto-estima e já para nem falar no lado da pobreza que parece que veio para não se ir embora nunca mais. mas há estas coisas que são capazes de levar às lágrimas qualquer futeboleiro nacionalista. hoje temos de ganhar. temos de ganhar porque acreditamos que isso poderá alterar alguma coisa no nosso quadro de esperança já demasiado limitado. temos de ganhar porque precisamos de fé no futuro. temos de ganhar porque não somos assim tão maus. temos de ganhar porque temos de ganhar. e logo contra a espanha. esse país que nos diz tanta coisa. que parece que paira sobre nós como uma eterna ameaça de invasão. temos de ganhar. por uma questão de princípios europeus. por uma questão de orgulho louco e irracional. deixem a pele em campo. é só o que eu peço.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

dizem que no fundo das misérias humanas se encontra a fórmula da felicidade. dizem muita coisa. aconteceu-me ficar surdo. era noite e a estrada era longa. o frio deveria ser insuportável como em todas estas histórias. os poemas já não me visitavam os pensamentos como num tempo distante. vivia o miserabilismo teórico da cabeça. apareciam criaturas com ar sacana e falavam-me. era desnecessário. eu olhava para as suas bocas grotescas em movimento e não percebia nada do que diziam. uns vomitavam aos meus pés com o descaramento de quem nada teme. não conheceram a vergonha dos dias. abriam a boca e fechavam-na como se isso tivesse alguma utilidade superior. bah. uma casa aparecia e eu entrava. arrastava o meu corpo de gorduras até uma porta metálica. eles estavam aí. comiam-se como vampiros de almas. eu agarrava nos meus venenos secretos e regava-os. eles decompunham-se rapidamente. devia estar um silêncio mortal no lugar. para mim era o mesmo. eu estava surdo e não tinha interesse nas partilhas. alguém com um ar insurrecto traz uma maçã brilhante. agarro nela e atiro-a com força contra a parede em frente. a parede está cheia de lesmas. esmagam-se umas com o impacto da maçã. salpicos de ácido e lesma sobre os vestidos das mulheres. alguns homens limpam o rosto. os outros que se comiam estavam já desfeitos no chão. vampiros derretidos na sua falcatrua. um tocava corneta. algo de anjo do apocalipse. uma mulher beija-lhe a corneta. ou a trombeta. ou o caralho. as lesmas direccionam o arrastar até aos vampiros desfeitos no chão. uma orgia de merda líquida. com um cheiro de corpo morto e podridão. deixo de ser surdo. grito-lhes com toda a força mas é só para me ouvir a mim. preciso de saber que estou vivo. a corneta cala-se. o corneteiro vomita perto dos meus pés. uma mulher de vermelho vem até ele. enfia-lhe uma língua viperina na goela. come o seu vómito. sopra no seu instrumento. eu parto vidros. e parto vidros. e mais vidros. tenho as mãos tão vermelhas como o vestido da puta das trevas. no dia seguinte. à mesma hora. o mesmo desfile de nadas mentais. através da estrada longa que se tornava casa.

domingo, 20 de junho de 2010

depois dizes baixinho para dentro: há que ganhar coragem que a estrada é longa e sinuosa. as imagens não te deixam. são sonhos fantasmas demasiado recorrentes. como uma fotografia antiga que na infância se fazia sempre questão de observar demasiado bem. sempre demasiado bem. as imagens que te assaltam o pensamento. solitário e seco pela estrada fora. umas paragens à beira de portas fechadas. o silêncio. procurar locais altos. voar para lugares inóspitos que sirvam de rasteiras ao pensamento. tudo pela língua.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

apontamento

e acendiam-se os campos com o passar dos velhos pelos caminhos. tornavam-se fortes. os campos e os velhos. a terra que subia pelos pés e se injectava viva no coração da idade. os velhos que a terra comeria depois de alimentar. quando tivesse fome deles. chegava-lhes uma carta ao sono. eles levantavam-se. faziam as despedidas dos outros homens e da luz. e dava-se uma espécie de mergulho fundo no interior da terra.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

e era como se a terra se abrisse debaixo do corpo
torres gigantes bombardeadas violentamente
a boca que perdia o sentido para o seu silêncio
pedras no olhar que foi um dia de vidro
e as mulheres dançavam na chuva com os sorrisos cúmplices
outros assassinos limpos descascados de visão
os dentes arreganhados animais
ratos que se transformavam em gigantes ferozes
que subiam com as unhas pelo peito
mordiam a cabeça frágil ou instável
mas tudo se passava na normalidade do costume
na normalidade crápula do costume
na anormalidade crápula do eterno
porque o que se falava não era já parte do tempo
as crianças chegavam com os seus brinquedos de ouro
afogavam-nos nas cinzas dos mortos familiares
o eterno tornava-se um despojo da guerra desconecta
a música soava alto como se tudo fosse parar
mas não se conhecem histórias desses rios
havia casas diziam-se imensas e luminosas
casas feitas com as mãos do trabalho e do amor
brincava-se nelas dormia-se nelas talvez se bebesse muito
a cabeça não estava já preparada para rupturas
os animais traziam um sangue estrangeiro que enfiavam na goela
não era nenhuma fome carnívora do abismo
era o passo suspenso da angústia
que circulava caprinamente debaixo da pele

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Rabbit in your headlight by UNKLE

aquecimento escrita nervos doença

sou um homem doente. sou um homem mau. sou um homem repulsivo, é isso que eu sou. cada vez tenho mais a certeza de que nasci para fazer alguma espécie de mal maior. tenho problemas emocionais fortes, aliados a uma instabilidade crónica. descobri isso numa manhã destas, quando tomava banho, depois de ter dormido muito pouco e ter bebido muito muito. é assim, para uns a consciência é um apoiante forte da vida, para mim é um elemento de desintegração grave. há coisas que não se conseguem ignorar quando são tornadas demasiado claras diante dos olhos. elas acabam por entrar como umas brutas pelo cérebro adentro, comem-no, desfazem-no, tornam-no líquido. porque será que tenho eu esta orientação natural para o sofrimento e para a atrocidade? não faço ideia. poderia discorrer horas e páginas a fio sobre as circunstâncias que me formaram enquanto homem, mas não quero, a culpa não pode morrer solteira e eu não me posso separar do mundo. sou instável porque sim. sou instável porque sou instável. ponto parágrafo. é uma coisa com a qual terei de viver todos os anos que me aguentar na minha miséria mental. já nem penso em anos. penso em dias. cada dia é uma dor específica. um conjunto de horas dolorosamente fatais. estou sujo. roído. obeso. destrutivo. as lágrimas caem-me agora com uma facilidade tremenda. sim, já tive melhores dias, ou será que devo dizer antes: sim, já tive ilusões. já conheci umas amostras de felicidade. houve um ponto no rumo que se despertou uma espécie de vírus. algo de maligno. algo que fez com que se alterasse a linguagem e as perspectivas. a maldade de dentro começou a ocupar todas as acções, até mesmo as mínimas, como uma mentira que cobre tudo como uma sombra, que não deixa a claridade aproximar-se da respiração. sim, sou sujo. o meu corpo está em revolta com a minha cabeça. vai-se afundando. de vez em quando sobe à superfície para ver as vistas mas volta a ir ao fundo para se esconder da visibilidade. as vistas são perigosas. as vistas permitem estranhos acessos de nervos e de apatia. estou doente. sinto-me doente num ponto do qual não posso regressar. e isso importa o quê? farei mais meia dúzia de coisas neste mundo? umas que sim e outras que não? isso não me chega. temos tão pouco tempo. perdemos tudo atrás de ninharias e falcatruas que não mostram qualquer tipo de princípios em relação à vida dos outros. crimes desfeitos. crimes perfeitos na sua ignorância vestida de crueldade. sim! crueldade! essa é cada vez a palavra mais certa no ambiente geral das coisas. crueldade. quando os olhos te olham com um fogo extremo. quando os olhos te atiram objectos cortantes. olhos superiores. como se estivessem uns patamares acima da tua cabeça insignificante. o poder do mal é meu. só a mim me pertence. o poder do meu mal é meu. a minha falta de rumo é minha. depois só apetece fechar o corpo numa casa obscura e gritar a tudo para que tudo saia. vomitar o tudo até que o vómito se torne numa forma de cura. chorar o tempo. obrigar o corpo a descargas líquidas. despedaçar braços e barrigas. ficar cego. perder a boca. perder o sentido. é o tal grau zero onde tudo começa depois de tudo acabar. talvez o ponto do silêncio e o fim das palavras. porque as palavras são malignas. e quem domina palavras malignas orienta a cabeça para o caos. é verdade que há seres que possuem a sua luz. é verdade que os há, uns com mais luz e outros com menos, não importa também. há luzes que só são capazes da cegueira e não vejo a diferença qualitativa em relação à obscuridade. não sei o que será pior. dois crimes perversos. crime é crime. crime é crime. depois chega-se à porta dos lugares e cospe-se para a rua umas frases sem sentido. para as ruas de gente. umas frases de perigo. possivelmente egoístas. mas não me falem em egoísmo nem em inconsciência. que as borboletas são todas coloridas. há borboletas que trazem um veneno raro nas asas. miseráveis borboletas que jogam nos patamares mais rasteiros da aparência. e o seu veneno espalha-se pelo ar como uma coisa mortalmente criada. fumo demasiado. bebo demasiado. morro demasiado lentamente. roubo ideias aos outros porque sinto o meu vazio delas. na minha cabeça as ideias circulam como um turbilhão de fogo mas eu não as consigo fixar. é uma impossibilidade física. pretendo sentir a fome até me obrigar a comer.

e agora... vou escrever para outro lado.

terça-feira, 15 de junho de 2010

a imagem mais violenta de todas. um beijo.
judas obscuro diante da porta.
insanidade.

terça-feira, 1 de junho de 2010