quinta-feira, 17 de junho de 2010

e era como se a terra se abrisse debaixo do corpo
torres gigantes bombardeadas violentamente
a boca que perdia o sentido para o seu silêncio
pedras no olhar que foi um dia de vidro
e as mulheres dançavam na chuva com os sorrisos cúmplices
outros assassinos limpos descascados de visão
os dentes arreganhados animais
ratos que se transformavam em gigantes ferozes
que subiam com as unhas pelo peito
mordiam a cabeça frágil ou instável
mas tudo se passava na normalidade do costume
na normalidade crápula do costume
na anormalidade crápula do eterno
porque o que se falava não era já parte do tempo
as crianças chegavam com os seus brinquedos de ouro
afogavam-nos nas cinzas dos mortos familiares
o eterno tornava-se um despojo da guerra desconecta
a música soava alto como se tudo fosse parar
mas não se conhecem histórias desses rios
havia casas diziam-se imensas e luminosas
casas feitas com as mãos do trabalho e do amor
brincava-se nelas dormia-se nelas talvez se bebesse muito
a cabeça não estava já preparada para rupturas
os animais traziam um sangue estrangeiro que enfiavam na goela
não era nenhuma fome carnívora do abismo
era o passo suspenso da angústia
que circulava caprinamente debaixo da pele

Sem comentários:

Enviar um comentário