terça-feira, 25 de janeiro de 2011

de um lado as amarras de vidro, imagens de uma guerra sorridentemente branca. as memórias rasgadas nos abismos vermelhos da carne que o foi. um dia veio a luz e lavou tudo, lavou a vida. estava contada a história. de um lado os guardas. do outro lado os carrascos. isto da vítima habitar o centro dos quadros é uma coisa mal amanhada dos contos para a infância. o que cantava a cabeça no seu deambular louco? quando caminhava errática pelas ruas da cidade do pequeno pormenor. da cidade tantas vezes desfigurada por combates internos. alguém trazia água, bebia-se sôfrega até passar áspera pela garganta e chegar como uma bomba ao estômago, comia-se pouco durante a guerra. o pior era a espera. um dia vinha uma inquietação demasiado presente e lá se atirava o corpo contra os muros, os muros eram o chão, a visão é que estava confusa. o chão. como será o corpo quando bate, embate, no chão? alguém gravou o som de uma melancia para fazer uma simulação quase real da cabeça explosiva. acreditou-se naquilo e até cheirou a vómito.


FARTO DESTE PALAVREADO

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

o sol da vida na sua magnificência árida em cima de tudo, comedor de cabeças explosivas e de solidões musicais. o fundo é a viagem. o vento impõe-se nos ombros como um sussurro aceso da distância. violações do eu. quase exposições da verdade. quase. quase feliz. quase vivo. quase quase. os transportes escavam sulcos na cara. não são rugas. são sulcos. comem-se paisagens sem o apetite do novo e só se anseia o sono. tempo-espaço. a viagem é uma relação aberta entre cúmplices problemas. sol vermelho sangue descendente no horizonte como uma vida que termina para sempre voltar. campos de água. túneis obscuros que quase raspam e arranham. gente sem nome nem idade. mundo sob um manto de luto sujo com a marca da fome. e da peste. e da guerra. finais abertos. classes. diferenciações no seio da carne e da respiração. máquinas violentamente respiradas. corpo intransigente. caminhante das noites sombrias acompanhado pelos cães e pelas estrelas. carregado de vida e de silêncio. sem parar. sem parar.