sexta-feira, 26 de novembro de 2010

para onde caminhava? silencioso na essência vaga da carne ferida, coberto por uma qualquer couraça de vinagre e solidão. desfilava pelas pedras com o casulo de ar por cima das costas que lutavam para contrariar o sentido do chão. uns dias eram armadilhas, mas não seriam todos? não seriam todos um oceano distante de vidas em sobressalto, carregadas de um tempo maquinal? alguém dizia rindo: o que se procura sempre é a felicidade! depois dessa afirmação mágica soltava gargalhadas e explicava o reduto condicionante dessa felicidade, eram coisas, visitas, imagens de vidros brilhantes, fugas. eu não dizia nada, queria tão pouco, queria só poder viver aquele momento ínfimo debaixo da chuva, poder sorver a água no canto da boca e sorrir, sorrir milagrosamente com a boca molhada pela liberdade. a questão era o caminho que se fazia, ia vendo o futuro cada vez mais caleidoscópico, cada vez mais não linear, cada vez mais fragmentado. o corpo ressente tudo isso. a cabeça também. os outros também. tinha aquele punhado de gente que era minha. que é minha. que é minha porque também eu lhes pertenço. o tempo esmaga-me com uma claridade musical. danço em círculos de desatenção e de caos. mergulho distante. talvez nada possa fazer. já me disseram que a minha vida era impossível. já lavei essa frase. quando me provarem as possibilidades que o mundo lhes mostra diante dos olhos, aí sim, baterei continência à sua grande verdade reduzida. chega de falar de fantasmas, a fase não é essa. a fase é criativa. a fase é de experimentar a própria fase. chega de lutos sinuosos por pedras bicudas. decisões. decisões. acção. sugar o conhecimento que o mundo carrega. sugá-lo com orgulho. não perder tempo. correr. correr. de vez em quando vai-se contra algum objecto mais ou menos cortante mas é mesmo assim. qual é a piada de andar em rectas?

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