quarta-feira, 3 de novembro de 2010

as coisas começavam lentamente a desaparecer debaixo dos pés gigantes. era um homem de barro. projectava visões que abrangiam distâncias magníficas. gritava a várias latitudes o pensamento em mudança da sua consciência cancerígena. havia algo que lhe tremia na voz. voz quebrada no movimento imediato da sua construção. o olhar negro. diziam que tinha uma colecção de selos marginais. que rompia lágrimas. que cavava sulcos no rosto. que a sua vergonha era demasiado interna para que fosse interdita. um poeta de poesia nenhuma. que não defendia o mundo. que não defendia a terra. e as coisas lá lhe iam desaparecendo com uma lentidão de atrocidade debaixo dos seus pés gigantes. sentia muitas vezes a raiva a ranger-lhe nos dentes. conhecia o sentido canino da guerra e era o que o alimentava. uma vocação animal. sentido aturdido e sem memória concreta. que palavras haveria de escrever depois de morto? como se os números pregassem partidas à miséria. haveria de começar a perfurar-se com combates loucos e no meio de incêndios incríveis. resto. zero.

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