domingo, 2 de maio de 2010

antígona.
o crime dos corredores dos hospitais.
nem violência
nem droga
o problema é a pobreza.
depois de cumpridos os ritos
a carne cumpre a ilusão.
salvação.
evolução.
revolta.
penas abusivas para o privilégio dos bufos.
raça superior de falsos homens mulheres.
porque o sistema não tem a poesia.
o sistema não tem cheiro.
nos bastidores da política
o desfile
armas secretas sobre as cabeças.
a alienação subversiva do humano verdade.
mortos-vivos.
rei lear:
cegos guiados por loucos.
depois do lixo consumível
o amor despido nas livrarias
nas lojas
no meio de milhares de cosméticos
camisolas
manequins de ouro.
o som do fundo vem devagar.
as ilusões cortam.
os pulsos.
a goela.
a electricidade.
a água.
a fome que se propaga com os supermercados.
mulher solitária nos corredores brancos.
sabão que se esfrega nas pernas.
o irmão morto debaixo da terra.
que salta ou voa para o eterno.
na televisão a verdade é cuspida aos solavancos.
a verdade é atravessada.
construção.
montagem.
argumentação.
quantos morreram verdadeiramente?
ir para casa no silêncio da noite
no silêncio dos mortos
as palavras que se propagam como dardos de sangue dentro do cérebro
inventar revoluções nas veias.
sentir a idade.
medo.
vontade.
prazer gigante nas batidas cardíacas.
membros cortados.
famílias económicas.
doentes.
terminais.
terminados.
a luz dos dias através dos caminhos e dos transportes
húmidos
cheios de pó
cheiros a gasolina.
mulher que sai de casa.
depois da violência brutal.
eu era um nome sagrado
que vivia numa caixa entrecortada de iluminação dura.
no meio da festa
sabor vermelho que escorre nos lábios.
a tua política está morta.
nunca serás mundo.
um dia serás enforcado na praça
ficarás em exposição dias a fio.
um dia chegarás ao texto exílio.
a polícia fará a sua ruptura.

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