sexta-feira, 24 de setembro de 2010

o rosto continuava prisioneiro da sua ilusão. nada havia a fazer. o corpo tinha acabado de sair da sombra volátil da idade. tudo se tinha resolvido. mas nestas coisas de bem e de mal nunca há absolutos. nas noites de fogo o carácter larvar da carne sobrepunha-se ao pensamento. eram noites de podridão saturada. o rosto consumia-se desalmadamente para conseguir respirar, para se conseguir soltar de armaduras mentais. fogos no interior líquido do cérebro. e se de repente o mundo se abrisse para que as crianças descobrissem o núcleo vermelho da vida... quando se caminha pelas ruas e há quem se torne num bicho de labaredas de sangue, contra os carros, contra as paredes, no chão imundo das cidades. quando se solta o grito pornográfico do outro que nada vazio no seu leito da vida. os animais respiram a tranquilidade saloia dos salões de baile. mulheres e homens com cabeças de cão trazem bandejas com as mais finas iguarias. espalham a comida sobre as tetas e sobre os pénis. começam com rituais frenéticos e obscuros até que a espuma chegue à boca. espuma que deixa o chão peganhento. o rosto apropria-se da sua prisão. alucina festins em tons de ouro e de sangue. uma ou outra lágrima furtiva se dirige para a terra. nada de música nesta imagem de miséria.

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