segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

apontamento fragmentado. as criaturas.

o político:

ou ganhas ou não ganhas. as derrotas fazem parte do jogo. alimentam as vitórias. o poder é virtual para os fracos. mesmo na sombra crescem as garras. um dia inventaram a ilusão da necessidade. os abutres chegaram e comeram os despojos. já um dia fui um homem. depois comecei a subir degraus frenéticos numa vontade ruidosa. até me perder. até me perder para sempre no meio de olhares burocratas. de vozes tecnocratas. de cabeças falocratas. quando lhes era útil o sol sorria-me. as imagens que valem tanto como não sei quantas palavras. imagens que se vendem como índices de confiança e de ambição. limpei muitas latrinas para ter chegado onde cheguei. lambi muitas solas de sapatos. comi muitas mulheres escondidas em compartimentos secretos de homens importantes. o caminho para a glória. quem inventou este jogo genial e pornográfico chamado democracia merece uma estátua na eternidade. conseguiu mostrar que era possível a fome de muitos com a manutenção de poucos e com a monopolização de quase todos. silenciados num acto mínimo e insignificante. o voto. nunca se tinha chegado a um ponto tão absoluto do silenciar das consciências. a maioria que resolva. a maioria que habita nos camarotes presidenciais da hipnose. já um dia fui um homem. depois corri pelo vento com a visão fixa num ponto do qual não há regresso. começaram as máquinas a ditar o meu discurso. o meu discurso que era uma massa de slogans fragmentados. matematicamente certeiros. como tiros concentrados.

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